Com a proximidade do final do ano, além dos projetos, é o momento de relembrar as leituras realizadas deste ano, então separei as minhas seis melhores leituras. Fazendo um balanço geral, eu acho que meu desempenho de leituras deste ano foi de regular a bom, eu li até o momento, 36 livros e 8 HQs (graphic novels e mangás), com uma média de 3 livros por mês. Acho que foi relativamente pouco, vou tentar aumentar minha meta pro próximo ano.
Então, vamos ao top 6!
*Os livros não estão listados hierarquicamente, do pior para o melhor.
1) A Coisa - Stephen King
O meu calhamaço do ano foi também uma das minha melhores leituras, no kindle, eram cerca de 2000 páginas, mas que devorei em menos de um mês, de tão envolvente. Conta a história da cidade fictícia de Derry e de seis moradores, únicas pessoas que conseguem entrar em contato com o que há de mais sombrio nesta cidade, A Coisa, personificada como um palhaço aterrorizante. Esses seis moradores, crianças no início da história, unem-se e tornam-se amigos pelo medo, inicialmente de outras crianças da cidade que praticam bullying com eles e depois, pelo segredo que os une, de serem os únicos a saberem da existência da Coisa. Além de acompanharmos a histórias dessas crianças por flashbacks, já que nos dias atuais eles já são todos adultos, vemos o reencontro deles, afastados há anos deles mesmos e da cidade natal, mas que mais uma vez unem-se a fim de derrotar de uma vez por todas A Coisa de Derry.
2) As Virgens Suicidas - Jeffrey Eugenides
Conheci esta história primeiramente através do filme de Sofia Coppola, apesar da crítica ter sido muito positiva, não foi um filme que me empolgou, talvez devido as minhas altas expectativas. Deu-se o oposto quanto ao livro, estava na espera de uma história mediana, mas a escrita de Jeffrey Eugenides me encantou do início ao fim. Como no livro anterior, há o enfoque em uma cidade, mas mais na família Lisbon e nas cinco lindas filhas do casal, todas jovens, com idades de um ano de diferença, dos treze aos dezessete anos. Sabemos dessa história pela perspectiva de um grupo de amigos vizinhos de mesma idade, aparentemente eles narram a história já adultos, mas são poucas as indicações nesse sentido, e que eram completamente fissurados pelas meninas, acompanhavam-nas pelos seus binóculos pelas janelas de suas casas, encontravam-se às escondidas para ficarem espiando e especulando sobre suas misteriosas vidas. O fascínio aumenta sobremaneira após o suicídio da mais nova, Cecilia, e em como as outras meninas parecem ter o mesmo propósito, ao mesmo tempo em que são subjugadas por uma mãe intimidadora e super protetora. Este livro levou-me a querer ler mais do autor, a narrativa escrita pela perspectiva dos meninos, com toda adoração e aura de mistério, é cativante.
3) A Redoma de Vidro - Sylvia Plath
Eu tenho dificuldade em saber qual livro, filme, etc eu gosto mais em relação a outro, mas este livro eu não tenho dúvidas de que foi minha melhor leitura do ano e está nos meus preferidos da vida. Depois de terminá-lo, eu ainda reli duas vezes de tão apaixonada que fiquei por Sylvia Plath e Esther Greenwood, a protagonista da história. É um livro autobiográfico, Esther é a personificação das próprias vivências e angústias de Sylvia e foi escrito semanas antes do suicídio desta, talvez por ser tão visceral tenha me encantado tanto. A narradora é a própria Esther, jovem adulta americana da década de 20 que sonha em ser poetisa, mas ao ser recusada em um curso de oficina de ficção e ter ido trabalhar por algum tempo em Nova York, saindo pela primeira vez de sua cidade natal, Boston, começa a se questionar se realmente é boa o bastante para escrever, quiçá viver, e cai numa profunda depressão, indo parar em diferentes instituições psiquiátricas. O sofrimento de Esther também é claramente por se sentir tão diferente de todas as outras jovens de sua idade, em Nova York por exemplo ela sente-se deslocada por não ser tão fútil quanto as colegas e, diferente do sonho da maioria das mulheres de sua época - de sua mãe inclusive - ela não quer casar e nem trabalhar às custas de um homem como datilógrafa, a profissão que sua mãe empurra a ela constantemente, seu sonho é trabalhar por si só, com seu trabalho, escrevendo, ela é o que se pode chamar, de forma bem clichê, uma mulher a frente do seu tempo. Mas é triste e ao mesmo tempo bonito acompanhar o quanto manter-se verdadeiro consigo mesmo, a despeito dos outros, pode ser causa de tanta angústia, tanto quanto da própria autora que, infelizmente, não conseguiu suportar.
4) O Tempo e o Cão - Maria Rita Kehl
Ainda na temática da depressão, este é um livro de não-ficção sobre o tema da psicanalista Maria Rita Kehl, vencedor do prêmio Jabuti de não-ficção. É um livro muito preciso, um estado da arte sobre o tema, escavando como a depressão foi vivenciada ao longo da História, sob que nomes e quais determinantes históricos a ela esteve ligada, além de tecer um belo panorama contemporâneo sobre as condições de possibilidade para o aparecimento da depressão dos dias atuais, como a vivência de tempo e espaço interferem nas experiências subjetivas, que podem desembocar nos estados depressivos, como esse diagnóstico aparece tanto atualmente, recebendo inclusive a alcunha de "doença do século". Ao final, ela explora como a psicanálise entende a depressão, expondo uma tese pessoal muito pertinente. As referências são várias, Lacan, Winnicott, Walter Benjamim, Marx, Bergson, Baudelaire, é um livro pra ser lido e relido pra quem se interessa pelo tema.
5) A Amiga Genial - Elena Ferrante
Tanto este quanto A Redoma de Vidro, eu havia lido para o clube de leitura leia mulheres do Rio de Janeiro, infelizmente não consegui ir em nenhum dos dois meses, mas ambas foram as minhas melhores leituras do ano, um belo presente. Elena Ferrante é o pseudônimo de uma italiana, mas não se sabe quem é, não dá entrevistas, ninguém nunca a viu, sequer se sabe se é homem ou mulher, sob essa aura de mistério, encarna a tetralogia iniciada pelo livro A Amiga Genial sobre uma amizade permeada de muito amor e ódio entre a narradora Elena e sua amiga Lila, moradoras de uma vizinhança muito pobre em Nápoles na década de 50. Elena conhece-a desde muito pequena, na escola quando se surpreende com a inteligência "natural" da amiga, colocando-a numa aura de magnitude que a acompanhará por toda a vida, sente-se diminuída por quanto ela, Elena acha que precisa esforçar-se sobremaneira para sobressair-se na escola (e depois, na vida), enquanto que para Lila parece ser inteligente sem grandes esforços. Ao longo da história, em pequenos apontamentos fica claro o quanto esta aura é muito mais produto das fantasias de insegurança de Elena do que de uma genialidade de Lila. Este primeiro livro vai desde a infância das duas até o casamento de uma delas, terminando com aquele gancho que nos impele a querer continuar para o próximo livro, é uma história envolvente e verdadeira sobre as paixões que envolvem uma grande amizade.
6) A Morte de Ivan Ilitch - Lev Tolstói
Minha segunda experiência com Tolstói, um livro pequeno, mas incrível, os autores russos são realmente invejáveis em sua escrita. Narra os três dias que antecederam a morte de Ivan Ilitch, onde ele faz uma verdadeira retrospectiva de toda sua vida, seu relacionamento com amigos, mulher e filhos, seus arrependimentos e conquistas, põe-se a elaborar toda sua vida, desde a infância, juventude, até a velhice. Estar confrontando a morte tão de perto também é tema de suas divagações e reflexões, vemos um homem moribundo temendo aquilo que não pode entender, tentando buscar explicações para o depois de sua morte. É um livro breve, mas muito rico, depois deste e de Anna Karenina, impossível não querer ler tudo de Tolstói.